Heloysa Juaçaba nasceu em 1926, na cidade de Guaramiranga, serra do Estado do Ceará, uma região marcada por fortes paisagens coloridas que posteriormente reaparecem nas suas obras – de expressão figurativa, concreta e abstrata – retratadas de maneira íntima e sensível.
Heloysa experimentou diversas linguagens artísticas, entre elas: a pintura, o desenho, a escultura, a gravura e a tapeçaria. Em cada linguagem, Heloysa buscava abordar uma diversidade de temas, tais como: a paisagem, a natureza, a fauna, a vegetação e as tradições populares.
Heloysa era apaixonada pela arte popular, pois acreditava que era a manifestação artística mais pura – livre de todo academicismo e tecnicismo – que expressava de maneira espontânea a cultura cearense.
A artista participou de diversas exposições coletivas e individuais, nacionais e internacionais, entre elas: o Salão dos Novos, o Salão de Abril, o Salão dos Independentes, a Mulher Maio Mulher, o Panorama da Arte Brasileira, a Bienal Internacional de São Paulo etc.
Heloysa foi uma grande agitadora cultural e assumiu a coordenação de diversos projetos artísticos e sociais no Ceará, entre eles o Sistema Nacional de Museus e a Rede Feminina do Instituto do Câncer do Ceará.
Foi uma artista renomada e ganhadora de diversos prêmios, entre eles um dos mais importantes: o Prêmio Sereia de Ouro, do Sistema Verdes Mares.
Heloysa foi de uma geração onde os artistas eram em sua grande maioria homens, onde quase não existiam mulheres artistas e referências femininas para se enxergar. Em um mundo dominado por homens, Heloysa sonhou em ser artista, e com a sua bravura e ousadia retratou o Ceará em uma perspectiva jamais vista – um olhar oblíquo – reinventando esse mundo em novas cores, linhas, relevos, texturas e sensibilidades.
Na exposição “Se arar”, Heloysa participa do afluente “Dilatações visuais”, um núcleo que tensiona o paradigma da arte como representação, e aborda a arte como uma linguagem própria, livre dos imperativos da figuração e que se lança na liberdade da abstração, do formalismo e do geometrismo.
Na obra “Relevos brancos” (1983), a artista apresenta uma tela branca costurada por cordas brancas em sentido horizontal, que ganham relevo na superfície pictórica. A corda é uma materialidade bastante presente no imaginário cearense, desde as redes de dormir, passando pelas cordas dos pescadores de jangada, até às linhas de bordado e tapeçaria. Ao utilizar a materialidade da corda, Heloysa retoma uma tradição regional e popular ao mesmo tempo que inova ao fazer desse signo não mais uma representação figurativa, mas sim uma expressão sensível da paisagem cearense. O relevo das cordas no sentido horizontal se torna o horizonte de uma paisagem vista por uma perspectiva formal, onde a corda se torna um puro elemento visual, isto é: ponto, linha, cor, textura e movimento. Assim, Heloysa expande os limites da pintura, do bordado e da tapeçaria, e cria uma nova linguagem híbrida para retratar a paisagem cearense não mais de maneira figurativa, mas agora a partir de relevos brancos, que expressam a paisagem em um olhar oblíquo.
Heloysa Juaçaba, Relevos brancos, 1983, Linha de algodão sobre eucatex, 56,5 x 124,1 x 2,9 cm (com moldura), Coleção da família.
CRONOBIOGRAFIA
Em 1950, estuda desenho e pintura na SCAP – Sociedade Cearense de Artes Plásticas.
Em 1961, participa da comissão organizadora da criação do MAUC – Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará (UFC).
Em 1967, funda o Centro de Artes Visuais (posteriormente a Casa de Cultura Raimundo Cela).
Em 1969, assume a direção do Departamento da Cultura da Prefeitura de Fortaleza.
Em 1971, assume a direção da Casa de Cultura Raimundo Cela.
Em 1973, idealiza o Museu de Arte e Cultura Popular do Ceará.
Texto: Lucas Dilacerda
#Múltiplas é uma série que celebra a importância das mulheres nas artes visuais durante o mês de março.