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Instituições de todo o Brasil manifestam apoio à Pinacoteca do Ceará após ataques difamatórios ao museu e artistas

Pátio da Pinacoteca do Ceará. Foto: Marília Camelo

Representações da sociedade civil, instituições ligadas à museologia e entidades repudiaram os ataques sofridos pelo equipamento cultural. Curadores da exposição Se Arar lançaram nota em defesa da arte cearense

Entre os meses de janeiro e fevereiro, a Pinacoteca do Ceará foi alvo de desinformação e discursos de ódio com a publicação de vídeos difamatórios nas redes sociais. A pretexto de defender a inocência de crianças que frequentam o espaço museológico, os ataques foram direcionados a seus trabalhadores, curadores, artistas e obras que estão em exposição, bem como às expressões religiosas de matriz africana e grupos LGBTQIAPN+

O museu se posicionou por meio de nota pública sobre os ataques, reforçando seu compromisso com o acesso à cultura e com a liberdade artística. Além disso, diversas representações da sociedade civil vêm demonstrando publicamente repúdio à campanha difamatória. São instituições ligadas à museologia, entidades locais, estaduais e nacionais, que alertam para a importância da cultura, da liberdade de expressão, do respeito aos grupos historicamente minorizados e da democracia.  

O Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM), em nota publicada nas redes sociais, defendeu a liberdade de expressão, garantida pela Constituição Federal, e repudiou os recentes discursos de ódio. “Todos os espaços culturais do país, sejam museus, centros culturais ou pontos de memória, são locais de reflexão e promoção do debate”, diz o IBRAM. 

O Comitê Brasileiro do Conselho Internacional de Museus (ICOM Brasil), por meio de nota nas redes sociais, veio a público manifestar solidariedade à Pinacoteca do Ceará. “Museus são lugares de expressão, conhecimento, encontros e informação”, diz a instituição no texto.  

Além disso, o Conselho Regional de Museologia (Corem) prestou apoio à Pinacoteca também por meio das redes sociais. “Os museus são instituições de referência na promoção de debates e reflexões que colaboram para o enfrentamento a todas as formas de discriminação e violência”, destaca o texto, que também foi republicado nas redes do Conselho Federal de Museologia (Cofem). O Corem afirma ainda que é papel destas instituições o trabalho ativo para a superação de preconceitos, estigmas e outras formas de opressão. 

A Rede de Educadores em Museus do Ceará (REM-CE) chamou os conteúdos desinformativos de ação “enganadora” e que caminham na “contramão” do trabalho realizado na Pinacoteca do Ceará. “Pode gerar insegurança no ambiente de trabalho do museu, principalmente em relação aos profissionais que atuam diretamente com o público, estando estes expostos a reações baseadas nas desinformações compartilhadas por uma representante da população cearense”. A REM disse ainda que a repercussão pode potencializar atitudes como agressões físicas e verbais de intensidade indeterminada. 

A Pinacoteca do Ceará respeita rigorosamente as orientações normativas em vigor no Brasil sobre classificação indicativa. No início do mês, o museu realizou o seminário “Direito à Cultura na Infância e Adolescência”, nos dias 8 e 9 de fevereiro, com a presença de autoridades no assunto, reunidos em duas mesas. Dentre os palestrantes, o coordenador nacional da política de Classificação Indicativa do Ministério da Justiça, além de representantes da Defensoria Pública do Estado do Ceará e do Ministério Público do Estado do Ceará. A atividade está disponível na íntegra no canal do Youtube da Pinacoteca. 

Curadores, artistas e representantes da sociedade civil prestam apoio 

Por meio das redes sociais, artistas presentes na exposição “Se arar” também prestaram apoio ao grupo que foi pessoalmente atacado, assim como o museu. “Desejo solidariedade a todos os demais artistas, aos curadores, gestores, funcionários e demais profissionais”, disse Isadora Ravena, autora da obra “Existo Amanhã” (2021), que foi exposta durante os ataques difamatórios. 

Rodrigo Lopes, autor de Pai (2018), junto com sua irmã Sylvia, também repudiou os ataques desinformativos contra a obra. “Nós utilizamos fotos de família, que são nossas, e, por cima dessas imagens, bordamos frases homofóbicas e lesbofóbicas que ouvimos em casa durante o período de descoberta da orientação sexual”, explica ele. 

A nota em defesa da arte cearense lançada pelos curadores da exposição Se Arar – Adriana Botelho, Cecília Bedê, Herbert Rolim, Lucas Dilacerda e Maria Macêdo – destacou que as obras citadas nos ataques são de artistas “negres, mulheres e LGBT+, grupos sociais historicamente minorizados, saqueados e esvaziados de sua complexidade de elaboração artística, cultural, filosófica, linguística e espiritual, numa sociedade erguida sob o padrão de vida hegemônico que quer eliminar tudo aquilo que não for reflexo do seu espelho esbranquiçado”. “Existem outros nomes para esses ataques: retrocesso, preconceito e racismo estético”, denunciam os curadores.

Parlamentares e representantes da sociedade civil também demonstraram solidariedade à Pinacoteca do Ceará. O Nossa Cara Mandata (PSOL), na Câmara Municipal de Fortaleza, disse nas redes sociais que a tentativa de difamação representa um ataque à cultura e tem motivações contra grupos sociais historicamente marginalizados pelo preconceito. “Firmamos aqui nossa solidariedade a este equipamento, tão precioso para a Cultura de nosso Estado. Estendemos a nossa solidariedade aos artistas que estão sendo difamados por essas desinformações”. 

Adriana Gerônimo (PSOL), uma das integrantes do Nossa Cara Mandata, visitou o museu e presenciou as diferentes e diversas sinalizações sobre a classificação indicativa nos pavilhões expositivos. “Conversei pessoalmente com a diretoria da Pinacoteca e fui informada que todas as escolas que visitam o museu recebem o roteiro conforme a idade dos estudantes”. Assim, as visitas são customizadas de acordo com o público e a idade dos integrantes.

A deputada estadual Larissa Gaspar (PT) destacou que a Pinacoteca deve ser um espaço de convivência e respeito a todas as pessoas. “O museu expõe obras que refletem a multiplicidade de temas, linguagens e religiões, como pregam os princípios democráticos”.

O deputado estadual Renato Roseno (PSOL) também prestou solidariedade ao museu, assim como esteve presente no Seminário Direito à Cultura na Infância e Adolescência. “Gostaria de reforçar nossos votos de solidariedade e apoio ao trabalho realizado pela Pinacoteca do Ceará e todo seu corpo de trabalhadoras e trabalhadores”, afirmou o parlamentar nas redes sociais. 

 

Confira as notas de solidariedade na íntegra: 

Nota do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram)

Nota do Comitê Brasileiro do Conselho Internacional de Museus (ICOM)

Nota do Conselho Regional de Museologia (Corem)

Nota da Rede de Educadores em Museus do Ceará (REM-CE)

Nota da artista Isadora Ravena

Nota do artista Rodrigo Lopes

Nota de solidariedade da parlamentar Adriana Gerônimo

Nota do Nossa Cara Mandata

Nota da deputada estadual Larissa Gaspar

Nota do deputado estadual Renato Roseno

Nota dos curadores da exposição Se Arar

 

SOBRE A PINACOTECA 

Inaugurada em 3 de dezembro de 2022, a Pinacoteca do Ceará é um museu público que integra a Rede de tem a missão de salvaguardar, preservar, pesquisar e difundir a coleção de arte do Governo do Estado, sendo espaço de ações formativas com artistas, comunidade escolar, famílias, movimentos sociais, organizações não-governamentais e demais profissionais do campo das artes e da cultura. Trata-se de um espaço de experimentação, pesquisa e reflexão para promover o diálogo entre arte e educação a partir de práticas artísticas. 

 

Texto de Alessandro Fernandes, sob supervisão e edição de Raphaelle Batista e Silvia Bessa. 

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