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Letícia Parente – Nômade é o corpo

Foto: Marilia Camelo. Obra: Marca Registrada, Letícia Parente, 1975. Acervo do Museu de Arte Contemporânea do Ceará.

Pioneira da videoarte no Brasil, embora radicada em Fortaleza, Letícia Tarquinio de Souza Parente nasceu em Salvador, em 1930. Transitando pela criação em fotografia, audiovisual, xerox, arte postal, instalação, gravura e pintura, tem como um de seus principais discursos as potências e possibilidades do corpo e da casa, estabelecendo um diálogo entre a vida íntima e o mundo por meio de suas obras.

Graduada em química em 1952, dedica-se à docência, trabalhando como professora na Bahia, no Rio de Janeiro e em Minas Gerais. Em 1959, estabelece-se com a família em Fortaleza e torna-se professora titular de química na Universidade Federal do Ceará (UFC).

De volta ao Rio de Janeiro aos 40 anos de idade, Letícia cursa mestrado em química na Pontifícia Universidade Católica (PUC-RIO) e após o contato com o Núcleo de Atividades Criativas (NAC), em Botafogo, passa a produzir gravuras. Também participa das oficinas de Ilo Krugli e Pedro Dominguez, no Rio de Janeiro. Retornando à Fortaleza em 1973, ganha o prêmio de aquisição do Salão de Abril e realiza “Monotipias”, sua primeira exposição individual no Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará (MAUC), composta de 29 obras gravuras.
Em 1974, no Rio de Janeiro, dá seguimento a pesquisas acadêmicas em química ao mesmo tempo em que estuda com a artista Anna Bella Geiger (1933). A troca criativa das duas as tornam as primeiras a produzir no Brasil obras em vídeo utilizando a câmera portapack3, trazida dos Estados Unidos pelo diretor de cinema Jom Tob Azulay (1941).

Tais reflexões sobre o corpo podem ser reconhecidas na obra “Marca Registrada” (1975), em cartaz na exposição “Se Arar”, na Pinacoteca do Ceará. No vídeo, com 10 minutos de duração, mostra a artista em super close costurando a expressão “MADE IN BRASIL” com agulha e linha na sola de seu pé, versando sobre o corpo-mercadoria e o pertencimento do Brasil em épocas de ditadura militar por meio de um gesto doloroso. A pele marcada, a produção de angústia ao observador através do gesto e do longo plano sequência, outra marca característica de Letícia, abre um leque de possibilidades de estudo e experiência do corpo da artista.

O audiovisual também é marcante no trabalho “Eu Armário de Mim” (1975). Nele, fotografias de seu guarda-roupa contendo calçados, exames médicos, objetos sacralizados, todos os seus cinco filhos, entre outros, são narradas com um poema que reflete sobre o tempo, seu lar e sua vida, temas também explorados pela artista em diversas outras obras.
Em 1976, apresenta a instalação “Medidas”, uma das primeiras obras no Brasil a abordar as relações entre arte e ciência, presente na época no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-Rio). A instalação versava em diversas linguagens, tais como a xerox, a fotografia e o audiovisual. A artista se utilizou de interessantes ferramentas de interação com o público, que passavam por várias estações nas quais eram medidas suas características físicas e biológicas, coletando dados em uma ficha individual, abordando temas como corpo, ação e relações entre a subjetividade e o meio.

Leticia se destaca não apenas por sua pluralidade e a possibilidade que investiga em suas obras, mas também é destaque pelo pioneirismo, experimentação e a aproximação entre o íntimo, a vida e a arte. A artista é personagem de si e da obra que produziu, hackeando e provocando o sistema da arte, o qual conhecia tão bem. Fundamental para o fortalecimento da videoarte no Brasil, Letícia extrai do corpo e dos seus territórios imagens e performances de luta.

Cronobiografia:

Nasceu em Salvador, em 1930.
Graduada em química em 1952.
Em 1959, estabelece-se com a família em Fortaleza e torna-se professora titular de química na Universidade Federal do Ceará (UFC).
Aos 40 anos de idade, Letícia cursa mestrado em química na Pontifícia Universidade Católica (PUC-RIO) e após o contato com o Núcleo de Atividades Criativas (NAC), em Botafogo, passa a produzir gravuras.
Em 1973, ganha o prêmio de aquisição do Salão de Abril e realiza “Monotipias”, sua primeira exposição individual no Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará (MAUC), composta de 29 obras gravuras.
Em 1974, no Rio de Janeiro, dá seguimento a pesquisas acadêmicas em química ao mesmo tempo em que estuda com a artista Anna Bella Geiger.
Em 1976, apresenta a instalação “Medidas”, uma das primeiras obras no Brasil a abordar as relações entre arte e ciência.

 

Texto: Rhaiza Oliveira

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