Um pouco mais de um mês após a sua abertura ao público, a Pinacoteca do Ceará realizou nos dias 13 e 14 de janeiro de 2023 mais uma etapa do seu plano museológico participativo. O tema “A Pinacoteca que queremos” foi discutido por 80 pessoas das áreas de atuação do museu, integrantes das diferentes redes que envolvem públicos e parceiros da instituição, como artes, cultura, acessibilidade, movimentos sociais, educação e gestão cultural. As pessoas foram divididas em dois dias de discussão e, em cada um deles, por quatro grupos de trabalho para responder a desafios específicos: “Acervo e Pesquisa”, “Educação e Formação”, “Curadorias e Histórias da Arte” e “Gestão e Participação”. Ao final de cada dia, elaboraram uma síntese, que vai alimentar a construção do plano, com previsão de entrega para fevereiro.
O Plano Museológico é um documento nos quais estão definidos conceitualmente a missão, a visão, os valores e os objetivos do museu. Devido à sua importância no Brasil a elaboração do plano museológico é um dos deveres previsto na Lei 11.904 de 2009, que institui o Estatuto de Museus. O documento articula o passado, o presente e o futuro com foco nos programas e atividades que o museu pretende realizar nos próximos cinco anos, visando cumprir a sua função social.
Participaram 80 pessoas entre artistas, curadores, pesquisadores da arte, professores, pessoas da sociedade civil ligadas à arte, ao território e ações afirmativas. Entre os presentes estavam 50% de mulheres, 37,21% de homens e 12,79% de pessoas trans (não-bináries, travestis, transmasculinos etc.). 55% de pessoas heterossexuais e 45% de pessoas LGBTQIA+. Quanto à heteroidentificação 41,25% de pessoas negras (pardas e pretas), 55% de pessoas brancas e 3,75% de pessoas indígenas.
Participação
A Pinacoteca do Ceará, como um equipamento público da Secretaria de Cultura do Estado do Ceará, sob gestão do Instituto Mirante de Cultura e Arte, destaca o caráter participativo do Plano Museológico em suas várias etapas. O objetivo é dar relevância a processos coletivos e integradores, a partir destes momentos de escuta pública, criação e ampliação de vínculos entre o museu e toda comunidade a ele relacionada, como classe artística e cultural, profissionais da educação e da cultura, movimentos sociais, pessoas e organizações das comunidades vizinhas ao museu, convidando-as em vários momentos a colaborarem na articulação dos seus primeiros passos e na pactuação da sua relevância.
O primeiro momento de escuta do plano aconteceu em 8 de novembro de 2022, com o seminário “Pinacoteca do Ceará: Que museu desejamos realizar?”, um mês antes da abertura do equipamento. O encontro ocorreu no dia 8 de novembro, reunindo mais de 150 pessoas na Sala Imersiva do Museu da Imagem do Som do Ceará (MIS-CE), além do público que acompanhou exclusivamente online, por meio da transmissão ao vivo realizada no canal da Pinacoteca do Ceará no Youtube.
Diante desses desafios de uma metodologia representativa e produtiva, a construção do Plano Museológico está sendo desenvolvido com a consultoria de Gleyce Kelly Heitor e Mirela Araújo, museólogas, representantes da empresa Andarilhagem Pesquisa e Projetos Culturais, cuja escolha se deu a partir da expertise das consultoras com gestão de museus, processos participativos e elaboração de Planos Museológicos, desejamos criar processos de escuta e mobilização social. Nesse evento, as consultoras contaram com a colaboração de Inês Gouveia (professora e pesquisadora no IEB – USP), Larissa Vasconcelos (pesquisadora e psicanalista), Leonardo Araújo (pesquisador e psicanalista, integrante do Novelo – processos criativos) e João Paulo Vieira (assessor da Rede Indígena de Memória e Museologia Social do Ceará) na moderação dos grupos de trabalho.
Gleyce Kelly Heitor explicou que a metodologia é integrativa e participativa, a partir de uma escuta interna com a equipe da Pinacoteca mapeando e identificando expectativas, desejos e pontos de fragilidade. Depois o fórum “A Pinacoteca que queremos” quando sistematizou-se o desejo da sociedade civil em torno dos próximos cinco anos, recorte indicado pela Política Nacional de Museus: um plano para cinco anos que possa ser revisto no segundo ano de implementação da instituição, uma vez que estamos em uma fase de implementação. “É importante que o plano museológico seja um compromisso da instituição com o poder público e também com a sociedade civil”, afirma Gleyce Heitor.
“A gente espera que seja um plano que vai nortear as ações e ajudar à Pinacoteca a se perceber e aos seus públicos a fim de realizar o seu trabalho o melhor possível nos próximos anos”, completa Mirela Araujo.