HORÁRIOS: de quinta a sábado, de 12h às 20h e domingo, de 10h às 18h.

Se arar

A exposição “Se Arar” faz parte da mostra Bonito pra chover, que marca a abertura da Pinacoteca do Ceará. Contando com 188 obras, a coletiva de artistas propõe lançar um olhar sobre a história da arte no Ceará, a partir do diálogo entre obras que integram o acervo do Governo do Estado e obras de artistas convidados. A curadoria é de Cecília Bedê, Herbert Rolim, Lucas Dilacerda, Maria Macêdo e Adriana Botelho.

Se arar

Curadores Lucas Dilacerda, Cecília Bedê e Herbert Rolim

É tempo de arar. Preparar a terra, marcar terrenos, cultivar quem fomos/somos/seremos. Lavrar o corpo, arar a alma, curar a vida. Arar rios bravios, navegar por todas as águas, fazer ondas. Fazer ar. Aguardar a chuva e colher. Arados de vontade de que algo se realize. Se arar, o que dá?

Em um mundo complexo, fragmentado e contraditório, por vezes árido e infértil, se dão as relações de poder e os lugares de fala, predominantemente branca e colonialista, que reproduzem estruturas binário-cis-hétero-normativo-branco-logo-falo-cêntrico-patriarcal, em contraposição as quais se insurgem as minorias. Por isso, não basta apenas ocuparmos as ruas, precisamos também ocupar a subjetividade, o corpo, a imaginação, a linguagem e a sensibilidade, porque a crise não é apenas política: ela também é estética, corporal, cognitiva, linguageira e sensível.

Nesse protesto, a arte pode ser uma aliada para enfrentarmos os poderes que nos controlam e nos colonizam. A arte nos dá a ver o intolerável e desnaturaliza o que aparenta ser habitual. Nesse movimento, a arte cria novas imagens e novos discursos sobre o mundo. Assim, ela expande os limites do possível e transforma as subjetividades. A arte liberta a vida aprisionada e reenergiza o corpo, a imaginação, a linguagem e a sensibilidade.

A exposição Se arar busca apresentar a arte cearense em sua multiplicidade ética, estética e política. Partindo de um recorte do acervo da Pinacoteca do Estado do Ceará, mais a presença de artistas convidados, a exposição apresenta uma diversidade de técnicas, poéticas, matérias, temas, repertórios, gerações e corpos que constituem a pluralidade cinética e dinâmica da produção artística cearense. Assim, a exposição cria diálogos entre gerações diferentes, de modo a revelar uma herança estética, e uma repetição diferencial de discursividades e visibilidades.

Por isso, as obras não se organizam aqui no espaço de forma linear, cartesiana e cronológica, mas sim de forma rizomática, orgânica e estética que, a partir de uma montagem anacrônica de tempos diferentes, nos faz perceber a sobrevivência das poéticas e heranças que atravessam as décadas e se atualizam, de maneira singular, em cada geração de artistas, apontando novos caminhos. A exposição é tingida pelas cores da paisagem natural do Ceará, e é dividida em 6 afluentes, que nomeamos de: Cearás fabulados; Espelho do eu; Ancestralidade e natureza; Dilatações visuais; Multiespécies; e Artivismo e vitalismo. Estes, são rios que se comunicam entre si por meio de diálogos subterrâneos.

Se arar é uma proposição poética; é um convite a uma construção coletiva. Para criar outro mundo é preciso, antes, plantá-lo. E nesse arado, a arte é o adubo para o nascimento de um novo mundo. Por isso, a exposição convida você, espectador, a ser um polinizador das sementes do mundo por vir. Se arar é um convite à fertilização do mundo e à germinação de nós mesmos.

Os Artistas

Acidum Project
Aderson Medeiros
Afonso Lopes
Aldemir Martins
Alexandre Veras
Aline Albuquerque
Amanda Nunes
Ana Aline Furtado
Anderson Morais
Antonio Bandeira
Antunys
Arivanio Alves
Artur Bombonato
Ascal
Athaíde
Audifax Rios
Azuhli
Babinski
Bárbara Matias
Barrica
Batista Sena
Bené Fonteles
Bosco Lisboa
Cairo Saraiva
Cantídio Brasil
Cardoso Junior
Carlinhos Morais
Carlito
Carlos Costa
Carnaval no Inferno
Cecília Calaça
Celestino
Célio Celestino
Charles Lessa
Chico da Silva
Chico Ribeiro
Clarice Lima
Cláudia Sampaio
Cláudio César
Clébson Francisco
Coletivo Aparecidos Políticos
Cyro Almeida
Dayse Grieser
Delfina Rocha
Descartes Gadelha
Diego Sann
Diego Santos
Edu Moreira
Eduardo Eloy
Eduardo Frota
Efrain Almeida
Eliana Amorim
Estrigas
Euzébio Zloccowick
Felipe Camilo
Fernando Catatau
Fernando França
Filipe Alves
Floriano Teixeira
Francisca Lopes
Francisco Bandeira
Francisco de Almeida
García
Gentil Barreira
Gerson Faria
Gerson Ipirajá
Gilberto Cardoso
Haroldo Saboia
Hélio Rola
Heloysa Juaçaba
Henrique Braga (Plantomorpho)
Henrique Viudez
Herbert Rolim
Iago Barreto
Ícaro Lira
Indja
Ingra Rabelo
Isadora Ravena
Izaías Silva
J. Arrais
J. Fernandes
Jane Lane
Jarbas Oliveira
Jared Domício
Jean-Pierre Chabloz
João Jacques
Jorge Luiz
José Bruno Silva Lima
(Fluxo Marginal)
José Carlos Gomes Viana
José de França Amora
José Guedes
Julia Debasse
Júlio Lira
Júnior Pimenta
Juno B
Karim Aïnouz
Kleber Ventura
Kleoman
Kulumym-Açu
Leo Ferreira
Léo Silva
Leonilson
Letícia Parente
Linga Acácio
Lu Miranda
Luben
Luiz Hermano
Maíra Ortins
Marcelo Gomes
Marcos Martins
Maria Macêdo
Mariana Smith
Marília Oliveira
Marina de Botas
Mário Baratta
Mário Sanders
Maurício Coutinho
Merremii Karão Jaguaribaras
Mestre Júlio Santos
Mestre Noza
Milena Travassos
Naiana Magalhães
Narcélio Grud
Nauer Spíndola
Nice
Nicolas Gondim
Noá Bonoba
Patrícia Araújo
Pedra Silva
Pretextato Bezerra – (Tx)
R. Kampos
Rafael Limaverde
Rafael Vilarouca
Raimundo Cela
Raisa Christina
Renan Aguiar
Roberto Galvão
Rodrigo Lopes
Rubens de Azevedo
Ruy Relbquy
Sabyne Cavalcanti
Samuel Tomé
Sebastião de Paula
Sérgio Gurgel
Sérgio Lima
Sérgio Pinheiro
Sérvulo Esmeraldo
Siegbert Franklin
Simone Barreto
Solon Ribeiro
Sy Gomes
Tarcísio Félix
Terroristas del Amor
Thadeu Dias
Thaís de Campos
Ticiano Monteiro
Trojany
Vicente Leite
Vidal Júnior
Vita da Silva
Vitor Cesar Junior
Waléria Américo
Weaver Lima
Wellington Gadelha
Williana Silva
Yuri Firmeza
Zé Pinto
Zé Tarcísio
Zediolavo
Zenon Barreto

O QUE PODE UM ACERVO?   Curadores Cecília Bedê e Lucas Dilacerda

Todo acervo é constituído de presenças e ausências. Essas categorias não são opostas, pois elas precisam estar em constante diálogo para a construção de uma história. As ausências devem transformar as presenças a partir de um movimento cíclico e espiralar, no qual as presenças são índices das ausências, tornando o acervo um ser vivo, que está em constante transformação e se alimenta de novas interpretações e narrativas.

Olhar para o acervo de obras da Pinacoteca do Estado do Ceará e para a produção que ainda não o compõe, mas se faz presente, é iniciar uma escrita sobre uma possível história da arte cearense. A cada afluente criado são evocados os aspectos históricos e suas questões importantes; a leitura atual e a conversa entre os diversos pontos de transbordamento – afinal, o “afluente é um curso d’água cuja vazão contribui para o aumento de outro corpo d’água”.

Encontrar um caminho de volta, descobrir novos-velhos fatos e produzir uma memória que não se deve guardar, mas sim colocar em ativa intervenção no presente e no futuro: esse é o gesto orgânico e vital dessa busca. Recontar trilhas, levando em consideração o visto e o não visto para que nada mais se apague, para que nos demoremos no que importa e no que precisa re-existir.

CEARÁS FABULADOS   Curador Lucas Dilacerda

O Ceará é um território em disputa. De um lado, o imaginário colonial produz e impõe imagens de seca, pobreza, terra da luz e mestiçagem. Do outro, a arte fabula e inventa novas imagens de fartura, festa e fantasia. Por isso, o afluente Cearás fabulados apresenta imagens que fogem dos estereótipos construídos sem deixar de lado os problemas políticos que ainda enfrentamos.

As obras denunciam os projetos de desenvolvimento e progresso da modernidade e se distanciam dos ideais de futuro da colonialidade. A fabulação é esse esforço de imaginar corpos e povos subalternizados que sobreviveram ao passado genocida, que sobrevivem ao presente necropolítico, e que estarão vivos num futuro por vir.

As obras imaginam o passado, o presente e o futuro do Ceará: como foi, como é, e como poderia ser. Quando as obras fabulam como foi o Ceará, elas entram no campo de disputa da memória e das narrativas “oficiais” de como foi o passado. Quando as obras fabulam como é o Ceará, elas entram no campo de disputa da interpretação de como é o presente. E quando as obras fabulam como poderia ser o Ceará, elas entram no campo de disputa da imaginação de como poderia ser o futuro.

Por isso, o afluente Cearás fabulados apresenta como a arte cearense olha para o seu próprio território (geográfico e afetivo) e fabula novos Cearás em telas, cores, paisagens, mares, sertões, vegetações, feiras, praças, serestas, viagens e sonhos. Pois o Ceará é um campo de disputa – e nessa batalha a arte toma posição.

ESPELHO DO EU   Curador Herbert Rolim

Considerado um dos gêneros de arte mais antigos da história, o retrato é visto como um elo inicial da expressão de uma possível verdade. Curiosamente, as pinturas com as mãos em negativo, na pré-história, já trazem um indício dessa vontade do sujeito de olhar para si mesmo, quer se autorretratando, seja se vendo no outro, nas coisas em torno ou em suas ações.

Na atualidade, podemos dizer que o termo “retrato”, em seu sentido de origem (do latim retrahere, que significa copiar), já não dá conta de suas possibilidades, movendo-se livremente entre identidade e alteridade. Como produção simbólica, o vemos na apropriação, pelo artista, da realidade objetiva, às vezes abstraindo-a, às vezes confundindo-se com ela ou sendo ela mesma, hifenizando arte-vida. Podemos também encontrar o retrato nas fronteiras borradas dos gêneros artísticos, revelando-se na paisagem geográfica, ou nas cenas de cotidiano, ou no silêncio das coisas, conquanto traga à superfície a face da criatura humana, mesmo que sua presença não esteja explícita.

A face que se mostra naquilo que vejo emerge de um salto interior, psicológico e ao mesmo tempo crítico; uma captura de mim e do outro que se traduz em afirmação ou negação; em denúncia ou aproximação; em confissão ou autoexpressão. É nesse deslocamento do olhar, de ver a si próprio e de se ver espelhado no outro, que se reflete a natureza e a condição humana. O retrato como lugar de pertença.

ANCESTRALIDADE E NATUREZA   Curadores Maria Macêdo e Lucas Dilacerda

Os gregos antigos possuíam duas palavras para se referir à memória: Mnèmai e Anamnèseis. Mnèmai é a memória que construímos nesta vida. Anamnèseis é a memória que herdamos de vidas passadas. Essas memórias ancestrais poderiam ser humanas e não humanas; poderiam ser memórias de nossos parentes familiares e consanguíneos ou memórias de nossos ancestrais animais, vegetais, minerais, cósmicos etc. – ou seja, ancestrais não humanos.

Seguindo essa rota, o afluente Ancestralidade e natureza reúne trabalhos de artistas cearenses que buscam a sua religação ancestral na natureza, nas plantas, árvores, florestas, rios, mares, dunas, desertos, sertões etc. Ancestralidade animal. Ancestralidade vegetal. Ancestralidade mineral. Ancestralidade desértica. Ancestralidade florestal. Ancestralidade vulcânica. Ancestralidade marítima. Ancestralidade estrelar.

Essas obras apontam para os saberes de base tradicional fundados também sobre as perspectivas afro-diaspóricas e originárias onde os saberes da terra são incorporados ao corpo ao invés de criarem uma cisão e subvalorização. São promessas de fertilidade no campo imaginativo evocando as centralidades de si, e das muitas geografias que compõem quem as produz.

Parafraseando o pensador indígena Ailton Krenak, “estamos colados no corpo da Terra. Somos terminal nervoso dela. Quando alguém fura, machuca ou arranha a Terra, desorganiza o nosso mundo”.

DILATAÇÕES VISUAIS   Curadora Adriana Botelho

Nos seus textos escritos na década de 1970, Sérvulo Esmeraldo nos diz: “Assim fomos nos alimentando: comendo retângulos e círculos, bebendo de prismas e cilindros. Encaixando o corpo que crescia nos quadrados das calçadas, nas cadeiras, nas camas, nas camisas”. O artista enfatiza, assim, a função da estética no seu cotidiano. Em torno dos movimentos da vanguarda, herdeiras e herdeiros das linguagens visuais modernistas vêm de um contexto de uma sociedade que se industrializava. Criaram imagens incorporando um cenário específico de cores, formas e contextos sociais, em que o geométrico conversava com o formalismo figurativo e a artesania.

Eduardo Frota esculpe a forma e o espaço; Heloísa Juaçaba dialoga com o trançado da manualidade artesanal; Carlito reutiliza materiais industriais; Lu Miranda adentra os interiores; Sérgio Pinheiro apropria-se da caixa-cubo e produz uma planta baixa articulando produto, espaço urbano e pintura.

O formalismo estético chama atenção para a forma, o tamanho, as cores, a qualidade da superfície e a capacidade compositiva dos elementos de engendrar interpretações por parte do observador. Lançam uma proposta de arte sensorial pelos sentidos da imagem. E, uma arte que se faça sentir nos menores detalhes da vida cotidiana e da vida conjunta, em sociedade. Ao habitar a forma, as(os) artistas propõem uma arte inclusiva.

MULTIESPÉCIES   Curador Lucas Dilacerda

Dragões, Peixes, Plantas, Cobras, Pássaros, Unicórnios, Cavalos, Zebras, Coelhos, Galinhas, Vírus, Sapos, Lobos, Mariposas, Borboletas, Fungos, Centauros, Botos, Ovelhas, Humanos, Máquinas, Ciborgues, Cachorros, Corujas, Bois, Minhocas, Árvores, Ruínas, Barro e Sol.

O afluente Multiespécies apresenta seres híbridos – monstros, bestas e quimeras – criados pela fabulação cearense, que atualiza mitos, tradições, contos populares, universos fantásticos, delírios oraculares, filosofias e cosmovisões que narram outras histórias sobre a realidade, a natureza e o convívio entre os seres vivos.

Assim, o afluente problematiza o Antropocentrismo e as modernas separações entre humano e não-humano; sujeito e objeto; natureza e cultura. Antropoceno, Capitaloceno, Plantationoceno, Chthuluceno são categorias que já não conseguem descrever o brutalismo do projeto – da cena da supremacia branca – de destruição do planeta Terra.

Diante da catástrofe, o afluente Multiespécies aborda a criação de novos corpos e modos de vida que se constroem nas relações de companheirismo com os humanos, os encantados, os animais, as plantas, os vegetais e os minerais.

Multiespécies são alianças que fazem nascer novas sensibilidades, que nos tornam capazes de adiar o fim do mundo e imaginar outros futuros mais conscientes, em solidariedade ética, estética e política de coabitação no planeta. Por isso, as materialidades aqui reunidas se tornam a casa e o abrigo para a germinação do ovo de uma nova espécie desconhecida.

ARTIVISMO E VITALISMO   Curador Cecília Bedê e Lucas Dilacerda

Temos compreendido que o indivíduo que se utiliza da arte para o engajamento político – seja por questões sociais, ambientais, urbanas, partidárias ou espirituais – pode ser chamado de artivista. São esses artistas ativistas que buscam uma transvaloração da arte entre a forma, o conceito e o fenômeno da vida. Disseminam a proposta artística em um campo social e, no geral, resistem aos sistemas e criticam os circuitos estabelecidos. As experiências artísticas aqui reunidas vão nesse sentido, e além. Sem o peso da conjuntura política, vemos as buscas, os desejos e as lutas em estado de invenção. Retomadas identitárias, denúncias da perda fabricada de memória, o elogio à natureza como origem e à cultura de resistência, o pedido da pausa, da escuta e da existência de todos os corpos.

Sem operar a partir da reencenação da violência como um meio de torná-la visível, as obras utilizam o espaço da arte para a criação de ambientes de vida e de cura, isto é, espaços perecíveis de liberdade onde o principal foco não é mais trazer à tona as imagens de violências sofridas e instauradas em processos de opressão social, mas sim curar as feridas a partir do uso de vitalidades que permitam renovar as energias do coletivo, do corpo e fertilizar a imaginação política. No vitalismo, a arte é inseparável da política, não mais apenas por meio de uma denúncia crítica da violência, e sim através da criação clínica da vida.

DEZEMBRO / 2022 a

JUNHO / 2023

PAVILHÃO 2

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Esta exposição faz parte da mostra BONITO PRA CHOVER

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